A criptorquidia — também chamada de testículo não descido — é uma das alterações urológicas mais comuns na infância. Embora seja conhecida principalmente como um problema pediátrico, seus impactos podem persistir na vida adulta, afetando fertilidade, risco de torção testicular e até predisposição ao câncer de testículo, caso não seja tratada corretamente.
O que é criptorquidia?
A criptorquidia é definida como a não descida completa do testículo até a bolsa escrotal, permanecendo ao longo do trajeto normal (canal inguinal) ou fora dele (abdome).
Testículo não palpável — pode estar intra-abdominal, atrófico ou ausente.
- Testículo inguinal palpável — a forma mais comum.
- Testículo ectópico — localizado fora do trajeto normal de descida.
- Testículo retrátil — presente no escroto, mas capaz de subir devido a reflexo cremastérico intenso; não é considerado criptorquidia verdadeira, mas requer acompanhamento.
A maior parte dos recém-nascidos prematuros apresenta testículos não descidos ao nascer, mas muitos completam a descida até os 6 meses. Após 6 meses de idade, a chance de descida espontânea é mínima, e uma avaliação urológica formal deve ser realizada.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é essencialmente clínico, baseado em exame físico cuidadoso em ambiente aquecido, com a criança relaxada.
Exames de imagem, como a ultrassonografia, apesar de não ser obrigatório, em alguns casos ajudam no diagnóstico.
Testículos não palpáveis devem levantar a possibilidade de ausência, testículo atrófico ou localização intra-abdominal.
Quando há dúvida, a exploração cirúrgica ou laparoscópica é o padrão ouro para localização.
Quando operar?
O tratamento padrão da criptorquidia é cirúrgico, por meio da orquidopexia — técnica que posiciona o testículo de forma permanente dentro da bolsa escrotal.
O momento ideal:
Idade recomendada para cirurgia
- Entre 6 e 12 meses de idade.
- No máximo até 18 meses, para evitar perdas irreversíveis da função testicular.
- Atrasos aumentam risco de infertilidade no futuro.
Testículo não palpável
- Abordagem preferencial: exploração laparoscópica, que permite confirmar presença, posição e viabilidade.
- A laparoscopia também identifica testículos intra-abdominais e possibilita correção direta.
Testículo atrófico
- A orquiectomia (retirada do testículo) é indicada quando o testículo é claramente não funcional, especialmente em crianças maiores ou adolescentes.
E quando o testículo está ausente?
A confirmação geralmente ocorre durante exploração cirúrgica em casos de testículo não palpável.
Nos casos de ausência de um lado:
- A fertilidade normalmente é preservada com o testículo remanescente.
- Pode-se considerar prótese testicular por motivos estéticos ou psicossociais, geralmente na puberdade.
Importância da avaliação médica
A criptorquidia não é apenas um problema estético — ela tem implicações importantes a médio e longo prazo.
O urologista deve avaliar:
- Localização do testículo;
- Potencial de descida espontânea (apenas antes dos 6 meses);
- Risco de atrofia;
- Necessidade de cirurgia;
- Presença de outras malformações urogenitais;
- Acompanhamento do crescimento e função testicular.
O diagnóstico e tratamento corretos na primeira infância têm impacto direto na fertilidade futura e saúde reprodutiva.
Crianças com testículo ausente, retrátil ou não descido devem ser avaliadas prontamente por um urologista para definição da melhor conduta.
EAU Guidelines on Paediatric Urology – 2025 (European Association of Urology).

